O impacto dos investidores Business Angel na economia portuguesa: uma força impulsionadora

Pedro Bandeira, vice-presidente para os Angels na Investors Portugal

Estes indivíduos experientes e financeiramente bem-sucedidos desempenham um papel crucial no fomento da inovação e no fortalecimento da economia do país, mas não está claro para quase ninguém o real impacto que estes provocam. Vamos tentar torná-lo mais evidente.

Os Business Angels em Portugal
Os Business Angels nascem no mundo, com esse nome, na década de 80, nos Estados Unidos. Em Portugal desenvolveram-se particularmente nas últimas duas décadas. No início dos anos 2000, houve um aumento no número de empresários e executivos que decidiram investir em start-ups promissoras. Muitos deles eram empreendedores bem-sucedidos que desejavam partilhar a sua experiência e capital para impulsionar o crescimento de empresas emergentes.

Os programas de co-investimento público geridos pela PME Investimentos e depois pela IFD (agora Banco Português de Fomento) foram enormes aceleradores da adesão de novos atores a esta atividade. Esquecemo-nos, como país, de planear a retenção que se tem feito com sucesso em vários países (Reino Unido é um dos melhores exemplos) através de benefícios fiscais que podem, quando bem desenhados, resultar em aumento de receita fiscal no médio prazo. Mas isto seria tema para outro artigo. Vamos voltar.

Eu, que só entrei nesta atividade em 2013, via como referências o Francisco Banha, o José Basílio Simões, o João Trigo da Roza, o Santiago Salazar, o Paulo Andrez, a Isabel Neves e o meu mentor e sócio Rui Falcão que me inspirou como continua a fazer diariamente com dezenas largas de novos Business Angels todos os anos que se apaixonam por esta atividade devido à evangelização dos Business Angels de vocação que se dedicam a isto quase irracionalmente.

Não estamos a falar de uma estratégia nacional concertada, porque essa sofre de hipos crónicos. Este desenvolvimento tem acontecido fundamentalmente devido ao sentido missionário de algumas personalidades com compromisso cívico fora do comum que criam clubes e veículos de business angels e convidam amigos e desconhecidos com valor acrescentado para ajudar empreendedores. Sem instigadores não haveria comunidade.

A FNABA e a APBA foram iniciativas da sociedade civil lideradas por estes instigadores e desempenharam um papel com inestimável relevância nesta história. Hoje a Investors Portugal representa os investidores early-stage (BAs e VCs) em Portugal e coordena o Plano Nacional para os Business Angels.

A importância dos Business Angels na economia portuguesa
Os Business Angels desempenham um papel vital no ecossistema de startups e no desenvolvimento económico de Portugal. Aqui estão alguns pontos-chave para entender o seu impacto:

  1. Capital semente: Muitas start-ups enfrentam dificuldades financeiras iniciais. Não têm vendas e muitos empreendedores não têm capacidade financeira para suportar os prejuízos dos primeiros anos. Os bancos não emprestam e os VCs querem ver algumas provas de mercado. Os Business Angels fornecem o capital necessário para esses empreendedores começarem as suas startups e validarem o modelo de negócio.
  2. Mentoria e experiência: Além do capital, os Business Angels trazem experiência e orientação valiosas para os empreendedores. Eles ajudam a evitar erros comuns e a desenvolver estratégias de negócio bem-sucedidas.
  3. Rede de contactos: Os Business Angels muitas vezes têm extensas redes de contatos e podem ligar startups a recursos e oportunidades valiosas.
  4. Taxa de sobrevivência: Devido ao apoio que os Business Angels oferecem, o processo de validação das startups encurta, as decisões de mudança de direção são tomadas mais cedo, poupando recursos e aumentando a taxa de sobrevivência das startups.
  5. Atrair mais investidores: A confiança dos Business Angels numa s
    tartup atrai mais financiamento de outras fontes, aumentando ainda mais a probabilidade de sobrevivência e crescimento da startup. Outros Business Angels e VCs investem mais facilmente em startups previamente investidas por Business Angels.
  6. Elevador social: Os Business Angels são um dos mais eficientes mecanismos de promoção do elevador social, permitindo a mobilidade ascendente de pessoas com mérito. Este mecanismo reduz substancialmente as desigualdades socioeconómicas no acesso ao elevador social. Este efeito nota-se não apenas nos fundadores das start-ups investidas mas também nos seus colaboradores por criação de emprego altamente qualificado, para além dos incentivos de longo prazo como share options oferecidos pelas start-ups aos seus colaboradores.
  7. Atração e retenção de talento: As start-ups investidas por Business Angels são geralmente muito inovadoras e geram emprego qualificado com potencial de oferecerem salários muito superiores aos praticados por empresas mais tradicionais. Isto permite não só criar oportunidades profissionais desafiantes e recompensadoras para talentos portugueses que equacionam emigrar ou trabalhar para empresas estrangeiras, mas também atrair talentos estrangeiros para Portugal. Para este efeito contribui também a estratégia de recrutamento das start-ups que é geralmente mais globalizada e exigente do que a de outras empresas que procuram recrutar localmente profissionais menos diferenciados.
  8. Diversidade económica: Os Business Angels investem frequentemente numa gama diversificada de start-ups em vários setores, contribuindo para a diversificação económica e para a competitividade. Esta diversificação pode ser particularmente importante em regiões que pretendem reduzir a dependência das indústrias tradicionais ou de um setor específico da economia.
  9. Comunidades empreendedoras: Muitos Business Angels contribuem ativamente para iniciativas locais e nacionais de desenvolvimento económico, promoção da diversidade nos negócios, formação para os negócios e concursos e programas de start-ups. Para além desta participação frequentemente voluntária, a presença numa comunidade local de investidores ativos cria um sentimento de oportunidade e presença de suporte que incentiva a iniciativa empreendedora.
  10. Investimento de impacto: Alguns Business Angels investem especificamente em startups de impacto mas é importante também evidenciar que na generalidade dos Business Angels o impacto social e ambiental criado pela startup é um fator de seleção nas suas decisões de investimento. Os Business Angels ajudam a criar soluções financeiramente sustentáveis para problemas sociais ou ambientais, substituindo soluções dependentes de financiamento público.

Evidência de impacto
Alguns estudos internacionais fornecem evidências inequívocas sobre o impacto dos Business Angels nas startups e na economia:

  • A Kauffman Foundation concluiu num estudo de 2007 que a taxa de sobrevivência a cinco anos aumenta em 30% em startups investidas por Business Angels por comparação com aquelas que não recebem investimento de Business Angels.
  • A Angel Capital Association reportou que 73% das start-ups investidas por Business Angels identificam esse investimento como um fator determinante no seu crescimento e sobrevivência.
  • Num estudo de 2014 levado a cabo por William Kerr, publicado na Harvard Business Review, conclui-se que há evidência científica para afirmar a correlação direta entre a experiência e o nível de envolvimento do Business Angel com a probabilidade de sucesso da start-up investida.
  • Os Business Angels investem na Europa mais de €1500 milhões por ano, segundo a EBAN – Rede Europeia de Business Angels.

Os números falam por si quando se trata do impacto dos Business Angels na economia portuguesa:

  • Nos últimos anos, os Business Angels investiram em média mais de €50 milhões em startups portuguesas anualmente.
  • Cerca de 1.500 startups foram apoiadas por Business Angels nos últimos cinco anos em Portugal.
  • Estima-se que as empresas apoiadas por Business Angels tenham gerado mais de 20.000 empregos em Portugal, na sua grande maioria qualificados.

Exemplos internacionais de sucesso
Portugal não é o único país que se beneficia do apoio dos Business Angels. Exemplos internacionais demonstram como estes investidores podem transformar ecossistemas de startups:

  • Silicon Valley, EUA: Silicon Valley é famoso pela sua forte presença de Business Angels. Empresas como Google, Meta e Apple receberam investimentos iniciais de pessoas como Ron Conway e Peter Thiel, sem os quais, provavelmente, não existiriam.
  • Israel: Israel é conhecido pelo seu ecossistema de startups robusto, e Business Angels desempenharam um papel crucial no seu crescimento. Empresas como Waze e Mobileye receberam apoio de Business Angels.

O futuro brilhante da economia portuguesa
Para terminar, o tom deve ser de esperança. A importância do papel dos Business Angels na economia portuguesa é inegável. Eles desempenham um papel fundamental no crescimento das start-ups, na geração de empregos, na redução das desigualdades e no aumento da competitividade. À medida que Portugal continua a atrair talento e empreendedores, o apoio dos Business Angels só se tornará mais vital para o sucesso económico do país. Com o compromisso contínuo destes investidores, o futuro da economia portuguesa parece brilhante.

Pedro Bandeira fundou 19 organizações diferentes em 20 anos. Desde 2014, construiu e/ou gerenciou mais de 10 grupos de business angels com mais de 1000 business angels. Acorda todos os dias para contribuir para a profissionalização do investimento dos business angels.

É cofundador e membro do Board da COREangels International, cofundador e membro do Board da REDangels, cofundador e vice-presidente da Angels da Investors Portugal (Associação Portuguesa de Investidores Early Stage. Tudo porque as start-ups merecem business angels melhores, afirma.

in Link to Leaders – 15 de Novembro, 2023

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